MOVIMENTO DESPERTALISTA
Uma breve explanação sobre os despertares e o novo despertar.
Por David J. P. Pecis*
De tempos em tempos a humanidade experimenta um “despertar” de consciência, expandindo sua compreensão sobre si mesmo e o universo no qual está inserida.
Nos passado remoto da espécie humana, nossos antepassados primitivos perceberam que seria mais produtivo abandonar a vida de nômades catadores e coletores para estabelecer-se em um lugar e formar comunidades. A partir daí surgiram grandes avanços culturais e tecnológicos, como a agricultura, a pecuária, a escrita e outros.
Séculos se passaram e estas sociedades floresceram formando grandes civilizações como a Mesopotâmia, Egito, Índia e China, cada uma delas com suas características culturais bem distintas, todavia mantendo princípios primordiais em comum.
Dentre estes princípios vemos a tentativa de explicar a realidade a partir de mitos e conceitos religiosos, deuses que por vezes se mesclavam em distintos panteões, estruturação política e religiosas similares com governos centrados na figura de um imperador e uma casta sacerdotal subjacente intermediadora entre o povo e os deuses personificados e representados pelo governante e inúmeras outras similaridades.
O mais curioso disso tudo é que algumas dessas culturas jamais mantiveram nenhum tipo de contato até alguns séculos atrás.
Com o advento da Filosofia, tão proeminente na cultura grega e transmitida a praticamente todo o mundo durante o helenismo a humanidade experimentou um segundo “despertar”.
A razão, o pensamento crítico, a lógica passam a determinar uma nova maneira de compreender o universo e a humanidade em si.
Grandes nomes como Sócrates, Platão e Aristóteles levantam grandes questionamentos e constroem relevantes pensamentos que influenciam a humanidade por séculos.
Durante o período da Filosofia a humanidade novamente experimentou grandes avanços, como por exemplo a conceituação do átomo como menor partícula de matéria, a medição da circunferência da Terra, o advento da álgebra, geometria e aritmética que tanto influenciaram na engenharia, astronomia e tantas outras disciplinas igualmente importantes que permitiram ao homem compreender ainda melhor a complexidade do universo e da vida.
O conhecimento deixa de se basear em crendices religiosas e superstições para se fundamentar na lógica e na razão.
Esse “segundo despertar” se manteve como motriz do pensamento durante toda a Idade Média, impulsionado por movimentos como o renascimento, o humanismo e o iluminismo, resistiu a forte oposição e a violenta perseguição da Igreja Católica durante este período da história humana, chegando até os nossos dias.
Nomes como Galileu Galilei, Descartes, Copérnico, Isaac Newton e tantos igualmente importantes, contribuíram para construção de um Paradigma que com o auxílio dos postulados dos antigos mestres (filósofos) do passado, moldaria nossa visão de mundo até o momento presente.
Mas como nada é eterno debaixo do sol e como a evolução é um processo constante e inevitável, a humanidade segue avançando no que diz respeito a aquisição de conhecimentos, tecnologias e elaboração de novas práticas de convívio social.
A mecânica quântica entra em cena. Um novo milênio se inicia. A ideia de equidade e igualdade social passam integrar a agenda dos governos. O mundo começa a compreender a necessidade do uso consciente dos recursos naturais e a preocupação com o planeta se torna um tema de máxima importância para a humanidade, dando origem a Ecologia, a noção de Sustentabilidade, o direito dos animais e o respeito as individualidades e as diferenças.
Todas essas mudanças ocorrendo em um mesmo momento levam a uma necessidade de revisão de valores por parte da humanidade, onde rompendo com este antigo paradigma, uma nova visão de mundo seja criada. Uma visão integral, totalitária mais ajustada a realidade de nosso momento presente.
A chegada deste novo paradigma holístico é um dos muitos reflexos deste “novo despertar” que a humanidade começou à experimentar a partir de meados do século XX e se mostrou bem mais evidente agora durante o século XXI, onde notoriamente vem ganhando força e influência com o passar do tempo.
Considerando o ditado popular que diz “contra a força não há resistência” o mais sensato seria aceitar a mudança pois ela virá independente do quanto resistamos.
É interessante pensar que cada novo despertar trás consigo uma extrema necessidade de revisão de valores e de compreensão de nós mesmos e de nosso papel no TODO em que estamos inseridos.
Os humanos primordiais que viveram no período do “primeiro despertar” talvez não se questionassem sobre isso ou talvez pensassem que eram insignificantes ante as poderosas forças da natureza com as quais não só não podiam compreender como não possuíam nenhuma defesa, criando por isso uma noção de deuses infinitamente superiores, que deveriam ser adorados para que tivessem boas colheitas ou tempos de paz.
Já os seres humanos que viveram no período do “segundo despertar”, que começaram dominando as sementes (agricultura), os animais (pecuária), que chegaram a dominar a razão (filosofia) e já podiam compreender o cosmos, passaram a pensar em si mesmos como seres superiores, como deuses, a exemplo de inúmeros imperadores que foram identificados por distintas cultas ao redor do mundo.
Eles sentiam-se senhores da criação, afinal, a noção de que só existe nós como seres racionais no universo infinito permanece vigente até hoje.
Essa noção de superioridade chega ao ápice com a soberba de achar que mesmo outros seres humanos eram inferiores e, por isso, poderiam ter sua dignidade ultrajada e seus direitos usurpados, conquistando, escravizando e dizimando sociedades e culturas ao longo dos séculos.
O “terceiro despertar” (o atual) nos permite compreender que não estamos nem abaixo, nem acima de nada e de ninguém, que toda a vida tem direitos e deve ser respeitada, que nosso papel é de promover a equidade e contribuir para a criação de uma humanidade mais justa e igualitária. Nos faz questionar as “verdades” contadas por nossos antecessores e buscar novas respostas. Nos faz perceber a importância da subjetividade e valorizar o papel das emoções e das relações que estabelecemos com o outro.
Este “novo despertar” (de consciência) nos impele a olhar com mais honestidade para dentro de nós mesmos e com mais empatia para nossos semelhantes. Nos impele a ter uma relação mais harmônica com o planeta e com tudo que nele há. Nos leva a buscar uma revisão do conceito de saúde que deixa de ser visto como “ausência de doença” e passa a ser visto como “…estado de bem estar físico, mental e social…”, assim como uma busca por ações de prevenção e por formas naturais de tratamento como jamais visto antes na história da humanidade.
Hoje as pessoas se preocupam cada vez mais com a qualidade dos alimentos e da água que ingerem, com a necessidade de praticar atividades físicas, com a busca por hábitos saudáveis, e isso muitas das vezes sem que ninguém, como por exemplo um médico, as mande fazer.
Quando eu me questiono sobre o porque dessas mudanças estarem ocorrendo neste momento a resposta que vem em minha mente é bastante clara, porque as pessoas estão “despertando”, ou seja, estão tomando consciência da importância de adotar estas novas condutas em todos os níveis de sua existência, melhores condutas biológicas, melhores condutas mentais, melhores condutas sociais e porque não dizer, melhores condutas espirituais, afinal, o crescente desinteresse por religiosidade e o subsequente aumento de uma busca por uma espiritualidade equilibrada também é uma marca indelével destes novos tempos.
É neste contexto que surge o Movimento Despertalista, como farol para propagar a luz desta nova aurora e guiar os passos dos “despertos” neste caminho de evolução e transcendência.
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*David Jansen Pinheiro Pecis, brasileiro, psicólogo, psicanalista e terapeuta holístico, especialista em neuropsicologia, acadêmico de medicina, idealizador do Despertalismo, fundador e Diretor-Presidente da antiga Sociedade Despertalista do Brasil, atual Instituto Despertalista.